quarta-feira, 20 de maio de 2015

FILME: O ARTISTA E A MODELO - 2012


Direção: Fernando Trueba - 2012
Duração: 105 min
Título Original: El artista y la modelo
País: Espanha e França 

Um filme sublime! Logo no início vemos Marc (Jean Rochefort) caminhando pela natureza, e ficamos encantados com sua capacidade de ver coisas onde a maioria não vê nada. A capacidade de ter a mente e o olhar livre, como uma criança, que vê formas em tudo, cores diferentes, capaz de uma percepção absolutamente sensível ao mundo. A alma de um artista, mas que todos nós poderíamos e deveríamos ter. Marc senta-se no Café do vilarejo, observa as pessoas passando, vê principalmente as mulheres e observa sempre suas pernas e tornozelos. Ele senta em sua cadeira e olha a natureza ao seu redor. Quase não há som, é o olhar que conta. 

Marc tem 80 anos, está aposentado, é um cultuado escultor que vive com sua mulher Léa (Claudia Cardinale) em um vilarejo no interior da França perto da fronteira com a Espanha. Estamos em 1943, plena Segunda Guerra Mundial. Léa vai ao mercado e vê nas ruas uma jovem (Aida Folch) dormindo, é uma fugitiva do regime de Franco na Espanha. Ela então a acolhe. Marc logo se encanta com a beleza de seu corpo e sente despertar em si mesmo o desejo de retomar a escultura. Mercé passa a viver no ateliê de Marc no alto da montanha e posa para ele. 

O filme é preto e branco, mas é justamente o que valoriza a arte, podemos ver nitidamente o corpo e as sombras, as dobras, o contorno que vai se esculpindo, e aos poucos os formatos, a posição, os músculos. São poucas falas, mas as que ocorrem valem o filme inteiro. Em dado momento Marc fala sobre o equilíbrio e a plenitude. Sobre o equilíbrio nos diz que quando o encontramos é para destruí-lo, como uma pedra que joga na água. Sobre a plenitude diz que vê uma árvore que cresceu no meio de uma pedra, é violento mas belo, a natureza triunfa sempre. A beleza se revela em lugares que pareciam impossíveis, vilarejos bombardeados e árvores crescendo ele diz. 



Uma das mais belas cenas é quando Marc que durante todo o tempo vê a nudez de Mercê com olhos de artista de repente tem uma ereção. Ele parte, caminha. No dia seguinte Mercê o deixa tocar seu corpo, aquelas mãos que seguem as curvas para senti-las também em sua escultura, mas o quadro se inverte, e Mercê passa a tocar o velho com suas mãos. Fiquei pensando no quanto seria belo também uma escultura de um velho ou uma velha, e não apenas a beleza perfeita que tanto se busca e que no final não existe, é inatingível. 



Para Marc um modelo não é para fazer uma cópia, mas sim para consultar a natureza. Ele busca a essência da mulher brotando da natureza. Em dado momento ele relata sua visão do gênesis, diz que Deus não seria tão idiota a ponto de criar o homem à sua imagem, mas sim, que ele criou a mulher e então tiveram um filho que chamaram de Adão. Só havia uma proibição, de Adão se deitar com sua mãe e ele o fêz e por isto foram expulsos do paraíso. Eis o pecado original. A mulher para Marc é a primeira forma, a forma essencial. 

Um filme espetacular!

Fernando Trueba nasceu em 1995 em Madri, Espanha. 

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